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Como está a situação em Gaza um mês após início de polêmico sistema de distribuição de ajuda humanitária

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Um mês após o início das operações da Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês) — um polêmico sistema de distribuição de ajuda humanitária apoiado pelos EUA e Israel em Gaza —, a análise de dezenas de vídeos feita pela BBC revelou diversos incidentes com tiros perto de pessoas que viajavam para coletar ajuda, bem como outros momentos de caos e pânico.

Em vários dos vídeos analisados, é possível ouvir tiros — e muitos vídeos mostram palestinos mortos ou feridos.

De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, no mês passado mais de 500 pessoas que tentavam obter ajuda foram mortas e 4 mil ficaram feridas — a grande maioria atribuída a disparos israelenses por autoridades e médicos de Gaza, bem como por testemunhas oculares.

As forças israelenses disseram à BBC que o Hamas faz “tudo ao seu alcance para impedir o sucesso da distribuição de alimentos em Gaza, tenta interromper a ajuda e prejudica diretamente os cidadãos da Faixa de Gaza”.

Em 18 de maio, Israel anunciou que estava aliviando parcialmente o bloqueio de ajuda humanitária a Gaza, que, segundo ele, tinha como objetivo pressionar o Hamas a libertar reféns. O bloqueio durou 11 semanas.

As FDI construíram quatro locais de distribuição de ajuda — três no extremo sudoeste de Gaza e um no centro de Gaza, perto de uma zona de segurança israelense conhecida como Corredor Netzarim — que começaram a operar em 26 de maio.

Esses locais em áreas controladas pelas FDI — conhecidos como SDS 1, 2, 3 e 4 — são operados por empresas de segurança contratadas para a Fundação Humanitária de Gaza, com o exército israelense protegendo as rotas e os perímetros até eles.

Na quinta-feira (27/6), o Departamento de Estado dos EUA anunciou US$ 30 milhões em financiamento para a GHF — a primeira contribuição direta para o grupo.

Desde o início, a ONU condenou o plano, dizendo que ele “militarizaria” a ajuda, ignoraria a rede de distribuição existente e forçaria os moradores de Gaza a fazer longas viagens por territórios perigosos para conseguir comida.

Poucos dias após o início do plano, dezenas de palestinos foram mortos em incidentes separados nos dias 1 e 3 de junho, gerando condenação internacional. Desde então, houve relatos quase diários de mortes de pessoas que viajavam para buscar ajuda humanitária.

As FDI disseram que suas “forças conduzem processos sistemáticos de aprendizado com o objetivo de melhorar a resposta operacional na área e minimizar possíveis atritos entre a população e as forças das FDI”.

O porta-voz do governo israelense, David Mencer, disse que os relatos de pessoas mortas enquanto recebiam ajuda são “mais uma inverdade”. “Não houve centenas de pessoas morrendo.”

A GHF negou que tenha havido qualquer “incidente ou fatalidade em ou perto” de qualquer um dos seus locais de distribuição.

Na terça-feira, a Cruz Vermelha disse que seu hospital de campanha em Rafah teve que ativar seus procedimentos de atendimento 20 vezes desde 27 de maio, com a grande maioria dos pacientes sofrendo ferimentos à bala e dizendo que estavam a caminho de um local de ajuda.

A ONU e seu Programa Mundial de Alimentos, bem como outros provedores de ajuda, continuam tentando distribuir ajuda em Gaza, mas dizem que dependem das autoridades israelenses para facilitar suas missões.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnur) afirmou que o assassinato de palestinos que tentavam obter ajuda humanitária são um “provável crime de guerra”. A advogada internacional de direitos humanos Sara Elizabeth Dill disse à BBC que, se houvesse qualquer ataque intencional a civis, isso poderia constituir uma grave violação do direito internacional.

“Tiroteios em massa durante o acesso de ajuda humanitária civil violam regras fundamentais contra ataques a civis e o uso da fome contra eles, o que pode resultar em crimes de guerra”, disse ela.

*DA BBC

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