Delegadas são investigadas por suspeita de favorecer Thiago Brennand
Ao menos duas delegadas são investigadas pela atuação em casos que envolvem o empresário Thiago Brennand, 43, que deve chegar ao Brasil nos próximos dias, após extradição dos Emirados Árabes.
As delegadas investigadas são Nuris Pegoretti e Maria Corsato. Por meio de nota, a Polícia Civil afirma que ambas respondem a procedimentos administrativos e processos na Corregedoria Geral da Polícia Civil. Há, ainda, uma ação contra Nuris no TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo). As apurações correm sob sigilo.
Nuris Pegoretti é investigada por suspeita de corrupção passiva. De acordo com a apuração, ela teria recebido R$ 250 mil para influenciar a condução da investigação e também para induzir o Ministério Público a arquivar o processo. A delegada investigou Brenannd pelos crimes de sequestro e cárcere privado em Porto Feliz, no interior de São Paulo.
A reportagem tentou falar com a delegada Nuris Pegoretti por meio do distrito policial onde o caso foi registrado, mas não conseguiu contato.
No relatório final de investigação, Nuris apontou denunciação caluniosa motivada por interesses financeiros. “Verificou-se que [Brennand] é indivíduo de porte agigantado, profissional em artes marciais, faixa preta de jiu-jítsu há mais de duas décadas, faixa preta em outras artes marciais, e não se encontrou qualquer registro de violência relevante em sua vida”, diz o documento.
Esse processo contra Brennand chegou a ser arquivado a pedido do Ministério Público de Porto Feliz, mas foi reaberto após reportagem do Fantástico (TV Globo) revelar um histórico de problemas envolvendo o empresário, como novas suspeitas de agressões e estupros.
A suposta vítima do caso, que também se identifica como empresária, contou que chegou ao Brasil no dia 28 de agosto de 2021 para ficar com Brennand. Eles se conheciam havia anos, se reencontraram pelas redes sociais e resolveram passar uns dias juntos. Em dado momento ele teria tomado o aparelho celular dela à força, impedindo que ela mantivesse contato com pessoas fora da casa.
No processo administrativo aberto pela Corregedoria, ao qual a reportagem teve acesso, é relatado que o inquérito é inusitado, se comparado aos demais relatórios produzidos pela autoridade policial, “tanto pelo número de laudas como pela forma de elaboração, bem como por conter incisiva defesa do investigado”.
Lacunas em inquérito
No fim do ano passado, a Corregedoria instaurou um procedimento administrativo para apurar a conduta da delegada Maria Corsato em uma das investigações que envolvem Brennand.
O empresário acusava de ameaça, difamação e injúria uma cliente da mesma academia que ele frequentava em São Paulo. Isso ocorreu após a mulher, que não teve o nome divulgado, registrar um boletim de ocorrência contra o empresário pelo suposto envio insistente de mensagens para ela.
Conforme os autos, a delegada Maria Corsato pediu que o juiz mantivesse a apuração em sigilo e comparou a situação com o caso da Escola Base -episódio ocorrido em 1994 em que donos de uma escola e um motorista foram injustamente acusados de pedofilia.
A promotora Marcia Leguth argumentou que o pedido não tinha fundamento e disse que há provas concretas contra Brennand. Ela criticou a condução do caso pela delegada e afirmou que havia lacunas e imprecisões no inquérito.
Em novembro, a mulher que registrou o BO pediu o arquivamento do inquérito e a instauração de outro, desta vez para investigar Brennand por suspeita de injúria, perseguição e denunciação caluniosa. O Ministério Público concordou em abrir nova investigação e solicitou a lavratura de um novo boletim de ocorrência por parte da delegada, o que não ocorreu. Na avaliação da promotora, houve recusa da policial.
À época, Maria Corsato negou irregularidades e concordou em conversar com a Folha de S.Paulo. Para falar com a imprensa, porém, ela precisaria de autorização da 2ª Seccional de Polícia Civil da Capital, que não respondeu sobre o pedido de entrevista e se limitou a dizer que o inquérito conduzido por Corsato havia sido foi arquivado pelo juiz a pedido do Ministério Público.
FOLHAPRESS