Adolescentes são apreendidos por ameaças e até bomba junina após ataques escolas
O país vive uma escalada de apreensões de adolescentes em ao menos sete estados por supostas ameaças de ataques a escolas por meio de mensagens apócrifas, incitação a novos ataques e até mesmo pela explosão de uma bomba junina no corredor de uma unidade de ensino.
O avanço casos acontece após o ataque a uma creche em Blumenau (SC) que deixou quatro crianças mortas em 5 de abril. Dias antes, um outro ataque em São Paulo terminou com a morte de uma professora a facadas e outras cinco pessoas feridas.
Órgãos de segurança estaduais dizem que estão em alerta e que aprofundaram o trabalho de inteligência, mas destacam que a maior parte das supostas ameaças é de alarmes falsos e têm como objetivo criar pânico na comunidade escolar. Foram consultados dez estados, que relataram ao menos 44 jovens apreendidos.
Na Bahia, a Polícia Civil apreendeu sete adolescentes nos últimos dois dias pelo ato infracional análogo à ameaça. As mensagens partiram de estudantes de Salvador, Vitória da Conquista, Ituberá, Itarantim, Maiquinique, Iaçu e Paratinga
O adolescente apreendido em Itarantim tinha em casa um caderno com desenhos que remetiam ao nazismo. Em Iaçu, um jovem de 16 anos gravou mensagens ameaçadoras direcionadas a um colégio no distrito de João Amaro, zona rural da cidade de 23 mil habitantes.
Em Mato Grosso, a polícia identificou ao menos sete casos de mensagens com supostas ameaças de ataques nas cidades Sorriso, Paranatinga, Nova Xavantina, General Carneiro, Nova Mutum, Poconé e Arenápolis.
Cinco mensagens partiram de menores, inclusive uma criança de dez anos. Levados à delegacia, crianças e jovens ouvidos disseram, em geral, que as supostas ameaças eram uma brincadeira.
Em General Carneiro, na segunda-feira (10), um aluno de 14 anos foi apreendido dentro da escola com uma tesoura, após denúncia de que ele mantinha em um perfil numa rede social mensagens com incitação a crimes. O celular apreendido, diz a polícia, continha mensagens homofóbicas.
O temor por ataques fez com que até mesmo a explosão de uma bombinha de festa junina resultasse em pânico. Três adolescentes de 15, 16 e 17 anos foram apreendidos nesta terça em Cuiabá após explodirem o artefato no corredor de uma escola.
Em Goiás, foram ao menos quatro registros de ameaças. Um adolescente de 15 anos que postou imagens de ataques em escolas de outras cidades e países, o que foi visto como uma insinuação a ataques. Ele disse que a ideia era fazer uma “brincadeira de mau gosto” para assustar colegas, mas que a história tomou outra proporção.
O governo do Amazonas diz ter identificado 25 adolescentes responsáveis por ameaças contra escolas nos últimos dias pelo núcleo de segurança escolar, parceria entre as secretariais de Educação e Segurança Pública.
Ameaças de ataques a unidades de ensino em Manaus teriam sido propagadas pelos adolescentes na internet, por meio de perfis falsos, e a polícia chega a classificar essas mensagens como terrorismo.
Os adolescentes foram encaminhados a uma delegacia especializada, onde foram registrados boletins de ocorrência e abertos procedimentos de investigação. Segundo o governo do Amazonas, há crianças envolvidas nas ameaças. Neste caso, os encaminhamentos foram feitos ao Conselho Tutelar.
Na última segunda-feira, um adolescente de 13 anos, aluno de uma escola de classe média alta e com administração religiosa em Manaus, agrediu com uma faca duas colegas da mesma faixa etária e uma professora da unidade. Os feridos passam bem, segundo o colégio.
No Ceará, um adolescente de 14 anos foi apreendido na tarde desta quarta-feira (12) no município de Farias Brito. Ele lesionou duas crianças de nove anos com um objeto cortante. As vítimas foram socorridas para uma unidade de saúde da região, uma delas já recebeu alta.
A Polícia Civil de Santa Catarina cumpriu mandados de busca e apreensão em Joinville (SC) nas casas de um homem de 29 anos e de um adolescente de 12 anos que seriam responsáveis pela criação de dois perfis falsos nas redes sociais para propagar ameaças de atentados em escolas.
Segundo a polícia, o homem era um ex-aluno da escola e confessou a publicação. Ele disse à polícia ter feito isso como uma brincadeira. Foi instaurado inquérito policial e uma apuração de ato infracional para investigação do crime de ameaça.
Criar ou disseminar conteúdos falsos, como ameaças a escolas, é uma contravenção penal, que pode ser punida com 15 dias a seis meses de prisão e multa, afirma especialista em direito.
No Rio Grande do Sul, a Polícia Civil apreendeu um adolescente de 14 anos na terça-feira (11) por suspeita de planejar um ataque a uma escola de Maquiné, município do litoral norte gaúcho. Com o jovem, foram encontrados balaclavas, facas, canivetes, um cutelo e material de propaganda nazista.
As Secretarias Estaduais da Segurança Pública e polícias informaram que estão atuando de forma preventiva e integrada e iniciaram medidas de monitoramento de ameaças e prevenção de ataques.
Na Bahia, a Secretaria de Segurança diz que reforçou o trabalho de inteligência para monitorar as ameaças. Destacou que a maioria das ameaças identificadas eram falsas, mas que órgãos de segurança seguem atentos.
A Polícia Civil de Mato Grosso destacou a necessidade de cooperação das plataformas responsáveis pelas redes sociais online. Também foi debatida a não divulgação de autores, imagens, vídeos ou símbolos que os identifiquem, para evitar o “efeito contágio” que resulte em outros ataques.
O Governo de Minas Gerais anunciou a criação de um canal de comunicação direto entre diretores das escolas e a PM.
Também foi aprovado projeto de lei que prevê treinamento de alunos e profissionais de educação para prevenção e emergência em caso de desastres, acidentes e atos violentos.
Em Pernambuco, o governo anunciou a criação de um número de telefone exclusivo para emergências escolares e denúncias de possíveis atentados. Já o governo de Santa Catarina informou que investiga todas as denúncias e que, por questão de segurança, não fornece detalhes sobre os casos.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro instaurou inquérito para monitorar aplicativos e perfis em redes sociais em que o conteúdo indique possível ataque a uma unidade escolar. No último dia 30 de março, o estado anunciou a criação de um aplicativo com botão de pânico e treinamento para professores.
Em São Paulo, o governo deverá anunciar nesta quinta-feira (13) um pacote de prevenção à violência na rede pública do estado. Entre as medidas está a criação de uma linha direta entre o estabelecimento de ensino e a Polícia Militar, que possivelmente funcionará em conjunto com a central 190, o número de emergência da PM.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, estado sofreu uma disparada no registro de ameaças ou suspeitas de possíveis planos de atentados a escolas na semana em que uma professora foi assassinada em ataque na escola Thomazia Montoro.
O crime ocorreu na manhã de 27 de março, uma segunda-feira. Na própria data do atentado e nos quatro dias seguintes, a Polícia Civil registrou 279 alertas.
Trata-se de um aumento expressivo no número de casos. De janeiro até o dia 26 de março, haviam sido registradas 82 ameaças do mesmo tipo –em média, quase sete casos por semana.
O QUE FAZER EM CASO DE AMEAÇA DE ATAQUE A ESCOLAS
Especialistas afirmam que ameaças não devem ser ignoradas. Por isso, é importante que os pais e escolas procurem a Polícia Civil e canais criados pelo Ministério da Justiça para denunciar qualquer tipo de ameaça
Não compartilhe mensagens, vídeos, fotos ou áudios com as ameaças
As autoridades precisam ser notificadas sobre qualquer tipo de ameaça, pois quem as produz ou compartilha também pode responder criminalmente
Pais, alunos e escolas devem manter diálogo estreito sobre alertas, receios e medidas adotadas. A transparência das ações é importante para aumentar a sensação de segurança
Fique atento e informe ao colégio qualquer mudança no comportamento dos alunos
COMO DENUNCIAR
Como parte da Operação Escola Segura, o Ministério da Justiça lançou um canal no site para que sejam denunciados sites, blogs e publicações nas redes sociais. O site para denúncia é o www.mj.gov.br/escolasegura
Em São Paulo, no caso de ameaça, é possível ligar para o 181, canal da polícia que permite que qualquer pessoa forneça à polícia informações sobre delitos e formas de violência, com garantia de anonimato.
FOLHAAPRESS