Amigas de brasileira encontrada morta na Argentina refutam versão de suicídio
Uma mulher com muita vontade de viver, sociável e seletiva com suas companhias. Assim amigas descrevem Emmily Rodrigues Santos Gomes, 26, baiana encontrada morta no vão de um prédio de um dos bairros mais ricos de Buenos Aires, na Argentina, na manhã da última quinta (30).
“Saíamos com ela toda semana e sabíamos a energia que ela tinha, não faz sentido que tenha se suicidado”, diz a colombiana Vanessa Vargas, 26, estudante de marketing. A versão de que a modelo teve um surto e pulou nua da janela do sexto andar após uma noite “de excessos” foi dada à polícia pelo principal suspeito.
O empresário do agronegócio argentino Francisco Sáenz Valiente, 52, é o dono do apartamento e foi preso no dia da morte. No sábado (1º), ele repetiu a versão ao Ministério Público, segundo a agência de notícias estatal Télam.
A explicação, porém, é tratada como improvável por pessoas que eram próximas de Emmily. “Quem conhecia ela sabe que nunca faria isso”, afirma Joicy Claudia, 27, estudante de gestão empresarial no interior de São Paulo.
“Ela era muito desconfiada, só saía com amigas em que tinha muita confiança e, se não gostava da ‘vibe’ da pessoa, dizia: ‘melhor ir para casa’. Além disso, jamais vi ela bêbada. Ela cuidava muito da sua própria imagem”, acrescenta Vanessa, que vive em Buenos Aires.
Mensagens obtidas pela reportagem sugerem que Valiente era uma espécie de “sugar daddy” para um grupo de mulheres jovens que viviam nos diversos quartos de seu apartamento. Vizinhos falam que festas eram frequentes e duravam até de manhã.
Naquela quinta-feira, a polícia da capital federal recebeu um chamado para o edifício do bairro Retiro por volta das 9h, dizendo que “havia uma pessoa alterada no sexto andar, informando-se imediatamente que uma mulher havia se jogado”.
Quando os bombeiros chegaram, ela ainda estava viva. Foi imobilizada e colocada numa ambulância, mas morreu a caminho do hospital. Além deles, estava no apartamento ao menos mais uma mulher: uma brasileira de 37 anos, médica e amiga próxima de Emmily.
No dia do fato, o empresário e essa mulher foram detidos e indiciados por suspeita de participação em homicídio. Ela, porém, foi solta e agora é tratada apenas como testemunha pelas autoridades, por isso seu nome não será divulgado.
Valiente continua preso e sua defesa ainda não se manifestou publicamente.
Uma terceira brasileira havia subido para o apartamento com eles na noite anterior, mas foi embora antes da morte. Sabe-se que Emmily foi com as amigas a um restaurante, a um bar e em seguida para um “after” na casa do empresário, ainda sem confirmação de quem estava em cada local.
A Justiça e o Ministério Público decretaram sigilo sobre o caso, por isso as informações oficiais ainda são escassas. Mas, diante da versão do empresário divulgada pela imprensa local, as amigas da modelo dos dois países vizinhos se organizaram nas redes sociais com a #justiciaporemmily.
Assim como a família, que viajou de Salvador a Buenos Aires na sexta (31) e ainda aguarda a liberação do corpo, elas acreditam que tenha ocorrido um homicídio, que pode ser tipificado pelas autoridades portenhas como feminicídio -crime para o qual a Argentina prevê prisão perpétua.
Marcas de violência teriam sido encontradas no corpo da modelo, assim como arranhões no empresário e na amiga, relatou o pai de Emmily, Aristides Gomes, ao programa Bahia Meio Dia, da TV Globo. A reportagem tentou contato com ele e com o advogado da família, mas não teve retorno.
As amigas Vanessa Vargas e Joicy Claudia contam que a jovem tinha planos para o futuro. Queria investir um dinheiro que havia guardado em uma clínica de estética.
Ela chegou a cursar direito em Salvador, depois começou a namorar um argentino, trancou o curso e, há quatro anos, se mudou para Buenos Aires. Ali fez mais três semestres de medicina, mas parou novamente, de acordo com a colega brasileira.
Em seguida, trabalhou em uma agência de turismo e fez cursos de estética. Recentemente atuava como modelo fotográfica e em eventos privados. Morava sozinha na capital argentina com sua cachorrinha Chanel num apartamento no bairro de Caballito, a 7 km de onde morreu.
Também tinha um namorado que até agora não veio a público, com quem as brigas eram frequentes, segundo Vanessa, que diz não saber se eles terminaram o relacionamento antes do ocorrido.
A estudante conta que Emmily conheceu a médica, que estava presente no momento da morte, há mais de três anos e que eram muito próximas. Passaram o último Natal juntas na casa da mulher de 37 anos, que organizou um jantar para conhecidos estrangeiros vivendo no país.
“A Emmily com certeza só foi para o apartamento do empresário porque confiava nessa amiga. Ela não era de confiar em ninguém, beber do copo de ninguém”, afirma Joicy, que critica comentários e reportagens que classifica como machistas sobre a jovem.
Eles também argumentam que a jovem era pequena, media cerca de 1,60 metro e seria facilmente contida em caso de um surto psicótico.
“Só pelo fato de a mulher ser bonita, ter um corpo bonito, estão falando que ela era garota de programa, o que ela nunca foi. E, mesmo se fosse, não teria o direito de morrer desse jeito.”
As autoridades argentinas continuam investigando o caso, ouvindo testemunhas e aguardando laudos das perícias para determinar o que aconteceu.
FOLHAPRESS