Negociação para fim da guerra vem primeiro que possível julgamento de Putin, diz Macron
O presidente da França, Emmanuel Macron, admitiu nesta quarta-feira (31) que o julgamento de Vladimir Putin por crimes de guerra na Ucrânia pode não ser viável, ao menos por ora, devido à necessidade do Ocidente de negociar com o russo para acabar com o conflito no Leste Europeu, em curso há 15 meses.
“Se nos próximos meses tivermos uma janela para negociações, a questão será a arbitragem entre um julgamento e uma negociação.[…] E eu acho que as negociações serão prioridade. Você pode se colocar em uma posição em que diga: ‘Eu quero que você vá para a cadeia, mas você é o único com quem posso negociar'”, disse Macron numa conferência de segurança em Bratislava, a capital da Eslováquia.
O francês voltou a enfatizar que a Ucrânia está defendendo não apenas suas próprias fronteiras no conflito, mas também a segurança de toda a Europa. Ao mesmo tempo, ele reconheceu que o Ocidente terá de reavaliar o apoio a Kiev se a esperada contraofensiva ucraniana não atingir os objetivos militares.
A contraofensiva é aguardada após o envio de armas para a Ucrânia e a conclusão de treinamentos de soldados por forças ocidentais nos últimos meses. Em abril, a Otan, aliança liderada pelos EUA, afirmou que já havia enviado 230 tanques para a ação. Outros 1.550 blindados também já estão com Kiev.
Oleksi Danilov, autoridade de segurança da Ucrânia, afirmou à rede britânica BBC que a contraofensiva em territórios ocupados pela Rússia é iminente, mas evitou estipular uma data para o início das operações.
Apesar de reforçar a necessidade de diálogo com Putin, o francês disse que as evidências de crimes de guerra cometidos pela Rússia e por seus líderes devem continuar sendo reunidas. Em março, o Tribunal Penal Internacional (TPI), baseado em Haia, emitiu um mandado de prisão contra o presidente russo argumentando que ele é o provável responsável pela deportação ilegal de crianças de áreas ocupadas pela Rússia na Ucrânia. A corte diz que o líder falhou em exercer controle de seus subordinados.
Em espécie de mea-culpa, Macron reconheceu que a França deveria ter prestado mais atenção às nações do Leste Europeu, que alertaram sobre uma Rússia beligerante antes da invasão russa à Ucrânia. Segundo ele, não deve haver divisão entre o que chamou de “velha Europa” e a “nova Europa”, referindo-se às divergências entre países da Europa Ocidental e Oriental sobre questões relacionadas a Moscou.
Macron disse que a Rússia sofreu reveses claros na guerra, entre eles a adesão da Finlândia à Otan e a perda de legitimidade no cenário global. “A guerra está longe de terminar, mas uma coisa é certa: a Ucrânia não será conquistada. Podemos ver que o que deveria ser uma ‘operação especial’ já é um fracasso geopolítico”, disse o presidente francês.
Após o início da guerra, Macron recebeu críticas de autoridades europeias, entre os quais da Polônia, manter os canais de comunicação abertos com Vladimir Putin.
Em abril, o líder francês também foi criticado após dizer em entrevista publicada pelo site americano Politico e pelo jornal francês Les Echos que os países europeus correm o risco de se tornarem “vassalos” caso as tensões entre as superpotências se intensifiquem no contexto da Guerra Fria 2.0, protagonizada pelos EUA e pela China. Na ocasião, o francês defendeu uma “autonomia estratégica” da Europa.
*FOLHAPRESS