PF abre inquérito para investigar coaches de pegação
A Polícia Federal abriu um inquérito para investigar os coaches americanos do “curso de pegação”. Tutores do MSC (Millionaire Social Circle) são acusados de promover exploração sexual após terem viajado junto aos alunos do curso para São Paulo durante o Carnaval.
O inquérito foi aberto nesta quarta (22) após a Embratur pedir para o órgão investigar o caso. O presidente da agência federal de turismo, Marcelo Freixo, esteve com o diretor-geral da Polícia, Andrei Rodrigues na segunda (20) para definir ações de prevenção e combate a crimes de exploração sexual praticados por turistas internacionais no Brasil.
O MSC, que oferece cursos para homens aprenderem a conquistar mulheres, também é investigado pela Polícia Civil de São Paulo por suspeita de exploração sexual. O caso está no 34º DP, localizado no Morumbi, zona oeste de São Paulo.
Em nota, na semana passada, a Secretaria da Segurança Pública afirmou que a ocorrência foi registrada como favorecimento de prostituição ou “outra forma de exploração sexual e agenciar, aliciar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher exploração sexual”.
Na noite da última quinta, a pasta disse que uma equipe de investigação da unidade realizou diligências para identificar e ouvir formalmente os organizadores e esclarecer todas as circunstâncias do fato.
Os tutores do grupo, que estiveram na capital paulista com seus alunos como parte de um treinamento, promoveram no dia 26 de fevereiro uma festa em uma mansão no Morumbi, para a qual foram convidadas mulheres brasileiras. As mulheres, porém, não foram informadas sobre o curso de pegação.
O grupo tem o costume de visitar países subdesenvolvidos e, em suas publicações, enaltece a desigualdade social que marca os locais por onde passam.
O Ministério Público de São Paulo acompanha a investigação. De acordo com o promotor Rogério Sanches Cunha, o caso é investigado como exploração sexual prevista pelo artigo 228 do Código Penal, que foi alterado em 2009. Antes, a lei só punia quem atraísse a vítima à prostituição. Agora, também pune o ato de atrair pessoas em outra forma de exploração sexual.
“Ninguém está pensando em prostituição. Eles atraíram essas mulheres mediante fraude para que elas fossem usadas como objetos sexuais para homens que estão treinando como se aproximar de mulheres”, explica o promotor. Segundo ele, o convite feito a mulheres para uma festa foi usado como artifício para atrair com mais facilidade essas vítimas.
Em nota, o Ministério do Turismo afirma que o chamado turismo sexual é um crime que deve ser denunciado às autoridades competentes (delegacias, Ministério dos Direitos Humanos e conselhos tutelares, por exemplo).
“O Ministério do Turismo repudia a prática e incentiva trabalhadores do setor de turismo a denunciarem atitudes suspeitas relacionadas à exploração sexual de crianças e adolescentes por meio do projeto Código de Conduta”, afirma o órgão.
OUTRO LADO
Após a repercussão do caso nas redes sociais, os integrantes do Millionaire Social Circle gravaram uma live em que afirmam que foram vítimas da cultura do cancelamento no Brasil e que foram acusados falsamente de turismo sexual e tráfico humano e de promover prostituição.
“Essas feministas são tão estúpidas”, disse Mike, para quem as mulheres que revelaram o caso não estão “fazendo nada da vida” e “não são pessoas ocupadas”. “Nenhuma delas está na faculdade de medicina.”
Em outro momento, afirmou que uma das mulheres que foi à festa e gravou um vídeo sobre o evento é uma “garota feia e gorda”. “As mulheres atraentes nos defenderam. Nos vídeos da festa, todos estão sorrindo.”
À reportagem o grupo negou que a festa tenha ligação com o curso e afirma que estiveram em São Paulo para realizar uma “conferência de namoro”. “Nós queremos que as pessoas saibam o que nós fazemos. Tudo é público.”
A conta do Instagram do grupo, no entanto, foi tirada do ar no fim de semana, assim como a maioria dos vídeos que mantinham no canal de YouTube.
FOLHAPRESS