Riscos da Covid longa maiores em mulheres, fumantes e +40
Um novo estudo apontou os riscos associados ao desenvolvimento de sintomas da chamada Covid longa. Entre eles estão ser do sexo feminino (56% maior), ter idade entre 40 e 69 anos (21% maior) e ser fumante (10%).
Outras comorbidades, como a imunossupressão (50%), doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC; 38% maior) e doença isquêmica do coração (28%) também estiveram associadas ao maior risco de aparecimento dos sintomas.
Os riscos foram maiores também em pessoas que necessitaram atendimento hospitalar ou foram internadas em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) durante a fase aguda da doença (risco 148% e 137% maior, respectivamente).
Já a vacinação com pelo menos duas doses dos imunizantes contra Covid teve uma redução de mais de 40% no risco de pós-Covid.
Os dados são de uma revisão sistemática que avaliou as condições associadas à síndrome pós-Covid. O artigo foi publicado nesta quinta (23) na revista especializada Jama Internal Medicine por pesquisadores britânicos.
A síndrome de pós-Covid é definida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como a persistência de sintomas até três meses após a infecção aguda pelo coronavírus e com a duração de pelo menos dois meses.
Entre os principais sintomas da pós-Covid estão aqueles associados a problemas neurológicos (perda de olfato, perda de paladar, esquecimento, confusão, dificuldade de concentração, problemas de sono, queda de cabelo) e relacionados ao sistema pulmonar (falta de ar, dificuldade para respirar, tosse comprida).
Para avaliar os fatores de risco associados à Covid longa, os pesquisadores buscaram estudos que incluíram pacientes adultos, com sintomas ocorrendo no mínimo três meses após o quadro de Covid e que continham informações sobre sexo, idade, condições de saúde prévias e status vacinal. Após a busca, eles chegaram a um total de 41 estudos com um total de 860.783 pacientes. Os dados incluem pacientes das Américas, Europa, África e Ásia.
A pesquisa consistiu em fazer uma meta-análise (análise dos dados publicados em estudos anteriores, sem a coleta de novas informações) dos fatores de risco listados nas publicações anteriores.
Vassilios Vassiliou, autor correspondente do estudo e pesquisador da Escola Médica de Norwich (Reino Unido), disse que o estudo é o maior e mais detalhado até hoje, e a análise multivariada permite afirmar com segurança os principais fatores de risco associados ao pós-Covid. “Mais do que isso, permite atribuir um peso de risco adicional para cada fator de risco. Por exemplo, se alguém for fumante e obeso, ele vai ter o risco do tabagismo e pela obesidade, atingindo um risco geral de 1,27 [27% maior]”, diz.
De acordo com ele, embora as mulheres tenham um risco um pouco maior para a pós-Covid, os homens também são afetados significativamente pela Covid longa -e esse risco é agravado quando há condições pró-inflamatórias, como algumas formas de asma e o sobrepeso. Por outro lado, a vacinação tem um papel importante tanto na proteção da fase aguda quanto na pós-Covid.
O estudo conclui que os diferentes riscos encontrados mostram como a síndrome pós-Covid é uma condição complexa e multifatorial. “O que nosso estudo mostra, além do benefício da vacinação, é que um estilo de vida mais saudável com redução de peso e do tabagismo, além de todos os benefícios que trazem para outras doenças cardiovasculares e câncer, também têm redução no risco da Covid longa”, finaliza.
PAXLOVID REDUZ SINTOMAS DE PÓS-COVID
Em um outro estudo publicado também nesta quinta-feira (23) na revista Jama Internal Medicine, cientistas do Serviço de Pesquisa e Desenvolvimento de St. Louis (Missouri), da Universidade de Washington, da Fundação de Educação e Pesquisa de Veteranos do Missouri e do sistema de saúde St. Louis, nos EUA, encontraram uma ação de redução no risco geral de desenvolver sintomas pós-Covid em pacientes que fizeram uso do Paxlovid.
O antiviral, que é uma combinação dos medicamentos nirmatrelvir e ritonavir, esteve associado a uma redução de 24% do surgimento de sintomas pós-Covid quando utilizado na fase aguda da doença por cinco dias com dois comprimidos ao dia.
De acordo com a pesquisa, que avaliou mais de 280 mil pacientes e que tiveram exame confirmado para Sars-CoV-2 no período de 3 de janeiro a 31 de dezembro de 2022, dentre os quais 35.717 receberam o tratamento com Paxlovid, o risco de hospitalização após o quadro agudo foi também 24% menor e o risco de morte pós-Covid foi reduzido em 47%.
Como conclusão, os autores afirmam que o tratamento com Paxlovid, independentemente do histórico médico ou status vacinal, reduziu o risco de desenvolvimento de sintomas pós-Covid, sendo assim um benefício inequívoco da droga.
No Brasil, o Paxlovid ainda foi incorporado ao SUS (Sistema Único de Saúde) em março de 2022, mas entidades médicas e especialistas criticam a falta de acesso ao tratamento e o quantitativo reduzido de unidades.
Diversos relatos de profissionais de saúde dizem que a droga não está disponível em hospitais públicos do país.
No final do ano passado, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou sua comercialização em farmácias. Atualmente, ele pode ser encontrado em farmácias, com a necessidade de prescrição médica, por quase R$ 5.000.
Ele é indicado para adultos que não se encontram sob uso de oxigenação, mas que correm o risco de evoluir para quadros graves de Covid.